A luta por um modelo abolicionista da prostituição, oferecendo apoio para as mulheres em situação de prostituição e com a criminalização dos compradores e proxenetas, sempre foi uma pauta essencial para mim enquanto feminista. Isto porque é uma problemática social indissociável do sexo: a gigantesca maioria das pessoas em situação da prostituição são mulheres, e 98% dos compradores são homens.
A legalização e regulamentação implica tornar nossos corpos mercadorias disponíveis à venda, quando na verdade acontece a exploração extrema dos corpos, especialmente das mulheres mais vulneráveis, sejam elas pobres, racializadas ou imigrantes.
Não se pode pensar na prostituição sem conectá-la automaticamente à persistência do colonialismo na mentalidade portuguesa, bem como à profunda desigualdade social trazida pelo capitalismo.
Acho extremamente cruel tentar amenizar a prostituição e o tráfico sexual como se fosse “trabalho sexual”, quando é uma indústria que explora exatamente as mulheres mais pobres.
Entretanto, não se deve ficar somente preso a debates e teorias: é preciso agir! É a vida de milhões de mulheres e meninas que está em risco. Essas mulheres são violentadas diariamente, várias vezes ao dia, e muitas vivem em condições análogas à escravidão, exploradas enquanto os proxenetas ficam cada vez mais ricos.
Também acho essencial pensar no consentimento. Todo sexo não consentido é estupro, e dinheiro nenhum pode comprar consentimento. É estupro pago! Por isto, repito: “se tens de pagar, não vales nada”.