É preciso falarmos.
A primeira vez que me deparei com a questão “és a favor da prostituição?”, sem ter conhecimento algum sobre o tema, pensei que sim. “Talvez seja, é uma escolha e cada um faz com o seu corpo o que quiser”.
Errado. Quando comecei a ler sobre o tema, a ouvir testemunhos de sobreviventes e a falar com pessoas que sabem efetivamente do que estão a tratar, percebi que essa ideia de “liberdade” não passa senão de um mito criado para propagar um sistema machista e violento.
Até que ponto se pode vender o corpo? E neste sentido, até que ponto isso é uma escolha?
A chamada “regulamentação da prostituição” assusta-me. Temos exemplos como a Holanda e a Alemanha, onde a taxa de criminalidade, seja tráfico de seres humanos, crime organizado, homicídios, etc., tem aumentado desde a sua legalização. Para além disto, é possível também perceber um padrão neste mundo da prostituição, na medida em que grande percentagem das mulheres que o integra fazem parte de países com maiores taxas de pobreza ou já experienciaram abusos sexuais.
Um outro fator fulcral quando se fala de prostituição é, sem sombra de dúvida, a existência de uma relação com o racismo – os compradores escolhem mulheres numa lógica de catálogo, no qual esperam determinadas atitudes consoante as suas etnias (“se é asiática espero que seja X” e “se é latina espero que não seja Y”).
Finalmente, olhando para um dos peões principais deste sistema, quando se legaliza a prostituição, está-se a moldar o mercado para um paraíso dos compradores de sexo, ou seja, quem “paga” é quem decide.
Neste sentido, quando confrontando os números, 99% dos compradores de sexo são homens, o que só espelha uma das várias vertentes do sistema patriarcal caracterizado pelo pensamento de superioridade masculina face à mulher, onde este até, se quiser, a pode comprar para prazer sexual. O que este sistema produz na sociedade, para além de projetar o homem para um patamar “mais elevado”, é também a forma como estes buyers mais tarde se vão comportar numa relação íntima “não-pagável”. Todos estes fatores perpetuam um sistema violento, altamente misógino e uma mentalidade retrógrada que consideramos inaceitável em pleno século XXI!
Chegando-se assim à conclusão de que o principal problema dentro desta estrutura são os sex buyers – que até agora têm passado despercebidos neste tipo de debate.
A campanha abolicionista “EXIT – Direitos Humanos das Mulheres a não serem prostituídas” foca exatamente neste ponto sensível (para alguns). O slogan “se tens de pagar não vales nada” mais do que sensibilizar para o papel que os homens (maioritariamente) têm na perpetuação do sistema da prostituição, vem apontar o dedo a quem compra sexo. Pouco se vê os compradores a serem publicamente e em privado (por exemplo, em círculos de amigos) a serem envergonhados ou confrontados.
O que o movimento abolicionista quer, o que NÓS queremos, é a penalização de quem compra. Não é d@ “trabalhador@”. O modelo abolicionista e incluído neste, a campanha Exit, pretende, contrariamente ao que pregam os defensores da regulamentação, proteger as mulheres desenvolvendo alternativas reais e programas de saída da prostituição. @s abolicionistas não carregam o néon “anti-sexo”, a liberdade sexual é exatamente o oposto do que significa a prostituição. É, sim, a minha liberdade de escolha, enquanto ser humano, de ter relações sexuais como, onde, quando e com quem eu quiser.
Pretendo acabar com um apelo a quem estiver a ler: Será tornar o Estado num proxeneta e cúmplice da diminuição da mulher mesmo a escolha certa? É que isso, não tem valor.
A campanha Exit é excelente e acho que vai resultar. O slogan é muito elucidativo.