Sodfa Daaji

Sodfa Daaji é uma feminista tunisíno-italiana que trabalha na Europa e em África. É uma defensora dos direitos das mulheres e o seu ativismo concentra-se particularmente nas formas como a cultura, a tradição e a religião afetam a realização dos direitos das mulheres.

É atualmente a coordenadora do núcleo do Afrika Youth Movement, um movimento liderado por jovens com mais de dez mil membros em África e na diáspora. É também membro individual da Rede Europeia das Mulheres Migrantes.

Comunicação na sessão Jovens promovendo a igualdade social

Creio que a perspetiva das/os jovens sobre a prostituição varia: temos jovens que consideram a prostituição como uma forma de violência e jovens que pensam que é uma escolha. Para simplificar, jovens que percebem que comprar seres humanos para sexo é crime e jovens que não percebem como a prostituição é prejudicial para as mulheres.

Sobre este tópico, é importante referir a perspectiva sobre a prostituição por parte de jovens rapazes, e como esta perspectiva é afetada por uma perspectiva patriarcal da sociedade sobre os corpos das mulheres, a presença forte da pornografia, e a linguagem usada. Quanta violência está presente nas palavras como comprar e clientes. Depois, é importante falar sobre as várias maneiras como jovens, especialmente jovens raparigas, se envolvem com este tópico. A narrativa contra o modelo nórdico tem uma perspectiva progressista sobre os corpos das mulheres, sobre escolhas e sobre a importância de se ser independente sobre o que escolhemos fazer com os nossos corpos. Vejo que esta narrativa inclui o tráfico sexual e a exploração quando lhes dá jeito. Ouvi pessoas dizendo que são contra qualquer forma de exploração, mas não as vejo a começar diálogos com sobreviventes e mulheres corajosas que conseguiram sair do sistema.

Ouço continuamente pessoas a mencionar como a sociedade mudou e algumas mencionam o capitalismo, porque para elas a violência é fazer um trabalho que não é bem pago.

Em primeiro lugar, o que defendo é que a prostituição não é um trabalho. A prostituição são mulheres forçadas a entrar no sistema por múltiplos factores, e os efeitos psicológicos e físicos são o resultado de anos de abuso mental e físico. A prostituição é dar aos homens o poder, através do dinheiro, de comprar o corpo de uma mulher, de a forçar a fazer vários atos. É simplesmente a forma através da qual os homens compram legalmente consentimento de uma mulher. As mulheres na prostituição têm de enfrentar exclusão social, silêncio e esforçarem-se muito para proteger as suas almas de diferentes abusos que enfrentam todos os dias.

Quando se fala em pessoas transgénero: eu venho de Itália, um país onde as pessoas trans enfrentam exclusão social e são forçadas a prostituir-se para sobreviver. Acabam por se meter em vários tipos de crimes, como drogas e um ambiente no qual não esperavam estar. Como é que este tipo de violência pode ser uma forma de empoderamento para as mulheres e pessoas transgénero? Como é que esta narrativa continua a existir?

Eu defendo em absoluto o modelo nórdico: descriminalização plena daquelas que estão na prostituição, incluindo apagar o seu cadastro criminal. Devemos estar do lado das vítimas e não permitir um sistema no qual as vítimas se tornam agressores. Eu defendo a mudança da linguagem: não é trabalho sexual, é prostituição. Não é cliente, é abusador. Comprar um ser humano para sexo é um crime, isto é o que eu defendo.

Finalmente, precisamos de mais plataformas que envolvam a juventude e mulheres. Precisamos de ser mais ouvidas e começar a quebrar os mitos relativos ao modelo nórdico. Entre nós existem muitas mulheres corajosas que passam as suas vidas a defender o modelo nórdico e a quebrar um sistema no qual é legítimo os homens comprarem corpos de mulheres.

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